terça-feira, 27 de março de 2012

África do Sul. Dirigente do ANC avisa que país poderá enfrentar uma situação semelhante à da Primavera Árabe



“Não podemos dizer que somos livres quando não temos pão na mesa, quando o desemprego aumenta e quando as áreas rurais não se desenvolvem.” – Matthews Phosa, tesoureiro do ANC

Pretória (Canalmoz) – O tesoureiro do ANC, Mathews Phosa, avisou que caso o governo da África do Sul não tome medidas urgentes para lidar com a crescente onda de desemprego entre a camada jovem, o país poderia ver-se a braços com uma situação idêntica à que ocorreu no norte de África no ano passado.
Phosa falava durante uma entrevista com o semanário «Sunday Times» numa altura em que comunidades necessitadas nas províncias de Gauteng, Mpumalanga e Cabo Ocidental saíam às ruas em protesto contra o desemprego e a não prestação de serviços municipais. Na Província do Noroeste, manifestantes lançaram fogo a um edifício da municipalidade.
O governo do ANC tem vindo a ser acusado de trair os ideais dos que lutaram contra o sistema do apartheid. O luxo e o esbanjamento, associado ao surgimento de uma nova elite poderosa, assim como a corrupção provocam a ira e o descontentamento no seio do povo.
“O que aconteceu no norte de África foi que existiam demasiados jovens desempregados. Se não retiramos dali as necessárias lições estaremos a cometer erros graves, sendo um deles o não perceber que a juventude se sentiu desempregada e negligenciada e se levantou contra os seus próprios governos, isso deveria ensinar-nos a ser cautelosos”, disse Phosa.
Mathews Phosa já foi também chefe do governo de Mpumalanga, província que faz fronteiriça com Moçambique e tem Mbombela (Nelspruit) como capital. Phosa viveu exilado em Moçambique nos tempos do ‘Apartheid’.
A propósito da recente onda de manifestações e protestos em muitas das províncias sul-africanas contra a inércia governamental na prestação de serviços básicos às comunidades mais pobres, Mathews Phosa chamou à atenção para o risco dos acontecimentos do norte de África se rpetirem no seu país.
Ontem em Kya Sands, Joanesburgo, voltou a realizar-se uma manifestação contra a falta de serviços mínimos na zona, com estradas principais barricadas e pneus a arder, tendo-se verificado uma acção de protesto semelhante e que originou cargas policiais no passado sábado em várias localidades.
Phosa salientou na entrevista ao «Sunday Times» que a África do Sul está a transitar da “libertação política” para a “libertação económica” e se o governo não criar as condições para que todos tenham comida e empregos a situação pode vir a degradar-se.
“A libertação económica deveria ser o tema central das celebrações do centenário (do ANC) porque não podemos dizer que somos livres quando não temos pão na mesa, quando o desemprego aumenta e quando as áreas rurais não se desenvolvem”, concluiu Matthews Phosa.
Analistas políticos sul-africanos referidos pela imprensa têm estado a vaticinar um ano de grande agitação social face aos problemas internos graves que o ANC e a coligação que o suporta no governo enfrentam.
A luta pela direcção política do ANC, que será eleita no congresso de Dezembro deste ano em Mangaung, tem criado fissuras visíveis no partido no poder, a mais óbvia das quais foi a recente expulsão do presidente da Liga da Juventude do partido, Julius Malema. (Redacção / Sunday Times / Lusa)
Imagem: Jasmine Flower Pictures
flowerinfo.org

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