sexta-feira, 30 de março de 2012

Pescadores de mariscos queixam-se dos efeitos das mudanças climáticas No bairro da Costa do Sol, na cidade de Maputo

Maputo (Canalmoz) – Os pescadores e revendedores de mariscos, nos bairros dos Pescadores e Costa do Sol, arredores de Maputo, dizem que os efeitos das mudanças climáticas já se fazem sentir naquela zona e já se reflectem na sua actividade diária. Eles têm como seu “ganha-pão” a captura, a venda e a revenda de mariscos.
A Reportagem do Canalmoz escalou esta semana o bairro dos Pescadores, e um dos exemplos dos efeitos das mudanças climáticas registados foi a acentuada degradação da Avenida Marginal que aos poucos está a ser engolida pelas águas do mar. As barreiras colocadas estão quase a ceder. O ambiente vivido no pequeno “dumba-nengue” no bairro dos Pescadores é desolador. Existem marcas de barracas e árvores que já foram engolidos.
Algumas pessoas interpeladas no terreno confirmaram que as características da praia da Costa do Sol de “hoje” são diferentes das de “ontem”. “A direcção da ventania que geralmente anunciava o “mau” ou “bom” tempo para a pesca também mudou”. “As sombras onde se distribuíam o produto da pesca já não existem, pois as árvores foram arrasadas”.

Inquietações

Albertina Muando conta que trabalha na praia dos Pescadores há mais de 20 anos. Diz que o seu negócio sempre foi peixe, mas quando começou a escassear mudou para amêijoas. Tudo isto para garantir o sustento da família. Neste momento, está a explorar um pequeno espaço encravado dentro de um pequeno banco de areia. A exploração desta parcela é paga à capitania.
Explicou que quando resta a amêijoa que tentou vender no mercado, vai depositar nesse lugar enquanto a maré for baixa e quando for alta, a amêijoa volta às características iniciais. No dia seguinte, retira e põe novamente na banca, assim sucessivamente.
“Pago anualmente 190 meticais à capitania para explorar este espaço. O negócio não anda bem. No passado vinham pessoas de hotéis e restaurantes fazer compras aqui, mas como o pescado diminuiu, eles já não vêm. Sentimos na pele as consequências destes novos fenómenos naturais”, lamentou.
Vitória Tembe disse, por seu turno, que as consequências das mudanças climáticas são notáveis na praia da Costa do Sol. Contou que ela sempre se dedicou à venda de camarão, mas de algum tempo a esta parte começou a escassear.
“O camarão que vendo é arrastado nas águas de Machangulo. Trabalho aqui há 37 anos. É muito caro o peixe e o camarão. O meu filho tem barco de pesca, mas é difícil apanhar bom peixe. Antes não precisávamos vir até à praia, comprávamos peixe lá no Montanhana. Por dia tenho um lucro de 200 meticais que serve para xitique (jogo de dinheiro entre amigos, família, vizinhos ou colegas), água e energia”, disse.
José Cossa contou que vive no bairro dos Pescadores desde a década 70. Diz que de lá a esta parte, muita coisa mudou quer na zona da praia, quer nas residências.
“Esta zona agora aquece muito. Dizem que é devido ao sal da praia, não percebo que fenómeno é este”, disse afirmando que criou todos os seus cinco filhos com dinheiro proveniente da venda de peixe, “mas agora não sai nada”.
Indicou que às vezes ficam duas semanas sem pescar “devido a ventania”. Nos dias que correm, observa, “existe uma ventania denominada “noi” (feiticeira na língua tsonga) que faz desaparecer todo o peixe. E mesmo os barcos que se arriscam ao alto mar, voltam sem peixe”.

Batalhadora

Madelena Joaquim, 32 anos, é natural da Beira. Conta que vive no distrito de Boane que dista 30 quilómetros a sul da cidade de Maputo. Compra peixe neste mercado e revende em Boane. Na segunda-feira chegou à praia às 8 horas, mas o peixe que saiu de manhã era pouco e acabado, teve de ficar à espera de barcos das 16 horas.
Explicou que antes de começar a vender peixe, trabalhava numa barraca em Boane. Ficou doente e o patrão mandou-a embora, e para não ficar sem nada fazer, preferiu iniciar com o negócio de peixe. É mãe de dois filhos. Diz que “o pescado sai irregularmente”.
“Compro peixe e escamo aqui. Vi que depender apenas do salário do meu marido era complicado. O preço é elevado porque agora sai pouco peixe, se comparado com os anos passados. Gasto de 400 a 600 meticais para comprar magumba e garoupa. Neste negócio tenho lucro de 200 a 250 por semana”, disse. (Cláudio Saúte)
Imagem: ... moçambicana. Ali, na varanda Art Deco, saboreia-se o misto de mariscos à ...
myguide.iol.pt

Sem comentários: