terça-feira, 19 de junho de 2012

Multinacionais estão a enriquecer dirigentes corruptos. “Rio +20: Desenvolvimento e inclusão”


– afirma Carlo Petrini, da organização “Slow Food”

Ele diz também que dos ganhos o povo só houve falar nas conferências e nos relatórios

Maputo (Canalmoz) – Os debates com painelistas da sociedade civil estão a “animar” a preparação da Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20. Ontem, segunda feira, o activista italiano da organização “Slow Food”, Carlo Petrine criou algum mau estar no pavilhão número 03 da Rio Centro, quando disse que em países pobres as multinacionais estão a ajudar os corruptos a enriquecer e levar a população à pobreza e ao desespero porque está a perder as suas terras, a sua única fonte de produção.
Aquele activista disse que nestes países, os contratos são acordados entre as multinacionais e os governos, sendo alguns dirigentes, parte interessada na matéria, de forma privada. Isso faz com que não haja interesse por parte destes mesmos dirigentes em publicar contratos que regem seus próprios negocios privados. “A população é simplesmente usada e não participa de nada” disse Carlo Petrine.
O retrato desenhado por aquele activista é uma verdadeira cópia do que acontece em  África. Em Moçambique por exemplo, apesar de pressões de todo o género, não há vontade política em publicar os contratos, nem de criar contratos padronizados. Aliás, em 2011, a ministra dos Recursos Minerais Esperança Bias disse ao Canalmoz que o governo continuaria a tratar o dossier “contratos com mega-projectos” em segredo, desmentindo assim qualquer discurso de transparência.
Já o representante do FMI em Moçambique, Victor Lledó, defendeu há dias em Maputo que as autoridades governamentais moçambicanas desenhem contratos-padrão com as empresas de extracção mineira que “obedeçam a normas internacionais” e que os mesmos sejam do “domínio público”.
“Dentro dos guiões de transparência, uma das nossas propostas claras é que os contratos devem ser publicados”, defendeu Victor Lledó.
Para o activista Carlo Petrine, o pacto entre as multinacionais e os Governos está a fazer emergir aquilo a que chamou de neocolonialismo com participação dos Governos. “É uma clara situação de neocolonialismo. O povo fica sem terra, e os dirigentes ficam donos e senhores de tudo. Têm o poder e o dinheiro das acções das multinacionais”, disse.
Para inverter este cenários Carlos Petrine defende maior capacidade de intervenção das organizações da sociedade civil, incluindo a imprensa, porque segundo disse, “é uma questão de responsabilidade e mais do que isso de direitos humanos”.
Os debates sobre o desenvolvimento sustentável contuam até ao último dia da conferência. (Matias Guente, enviado do Canalmoz/Canal de Moçambique ao Rio de Janeiro)

Sem comentários: