sábado, 9 de junho de 2012

O Jornal de Angola vai continuar a diabolizar os Activistas dos Direitos - Raul Danda



Luanda -  Faço aqui uso do meu direito legal de resposta para repor a verdade em relação às matérias que têm vindo a ser publicadas no Jornal de Angola desde o dia 24 de Maio do ano em curso, pelas mentiras aparatosas nelas contidas. Com efeito, desde essa data que, em supostas “entrevistas” ou em “editoriais” encomendados e orientados por quem nenhum angolano atento hoje desconhece, se vem sistematicamente atacando, com o intuito claro mas vão de intimidar vozes que podem ser “prejudiciais” em fase de eleições.

Fonte: JÁ Club-k.net
Em reacção  a fabricação de entrevistas no JÁ
Sabemos, aliás, que as entrevistas têm sido conduzidas por “especialistas” idos de Luanda; especialistas que não se querem sequer dar ao trabalho de pensar muito pois, se baralharmos as entrevistas veremos facilmente que o conteúdo é o mesmo, a forma de fazer as perguntas é a mesma e, mais flagrante ainda, que as respostas são invariavelmente as mesmas, até na tradicional e desusada forma de dizer que “lá fomos enganados duramente muitos anos” e que “agora descobrimos o lado bom, quase celestial” onde “estamos a ser bem tratados”. Até nisso a similitude é impressionante.

Eu não conheço nem o “comandante” Lelo Congo, nem o “ministro” Luís Costa, nem o “vice-ministro” António Sango”, e aposto que não conhecerei também o eventual resto do cortejo de ilustres entrevistados que o Jornal de Angola ainda terá para oferecer aos seus leitores. Aliás, quando li a entrevista do senhor “ministro” e reparei que ele me trata por “Padre Danda” (eu até gostaria de ser padre, mas não sou), facilmente eu e todos os leitores minimamente atentos se aperceberão que ele também não me conhece.

Sobre o “Comandante” Lelo Congo: quando olhei para a fotografia estampada no jornal e li a
entrevista, pensei que essa pessoa nem existia, que era fictícia. O mesmo pensaram os padres Casimiro Congo e Raúl Tati, assim como o Alexandre Sambo e o Félix Sumbo. Disse-nos o Belchior Tati que o indivíduo existia mesmo, que já o tinha visto em Cabinda, apesar de não ser alguém de sua confiança. Bem, pelo menos é real. Mas todo aquele que o conhece sabe que tinha sido capturado em combate, tendo ficado diminuído de uma perna, sem um braço e sem um dos olhos. Fui igualmente informado de que o “senhor comandante” não tinha o mínimo de background que lhe permitisse dizer o que está estendido ao longo daquela entrevista.
As mentiras aí contidas são tão clamorosas, tão pouco escondidas que se nota claramente que o pobre “comandante” foi apenas utilizado, pois que os autores do texto serão certamente os mesmos que escrevem o editorial que surge no mesmo Jornal de Angola, dois dias depois dessa entrevista, com o título “Rebelião e Negócio”. Basta prestar um pouquinho de atenção à linguagem utilizada na “entrevista” e no editorial para que não subsistam quaisquer dúvidas relativamente a isso. Aliás, só alguém confortavelmente sentado num gabinete do Jornal de Angola, que muito provavelmente nem no mapa saiba identificar o Buco-Zau poderá demonstrar tanta falta de conhecimento das coisas a ponto de considerar ricos pessoas como Casimiro Congo, Raúl Tati, Alexandre Sambo, Raúl Danda, Félix Sumbo, Belchior Tati e outros. A menos que tenham conhecimento de contas bancárias de todos esses ou pelo menos de alguns deles que demonstrem que tenham tanta riqueza, mesmo se aceitando viver na pobreza em que vivem. Também só quem não conhece a Igreja Católica pode referir-se à cobrança de “dízimos” como se faz nessa entrevista.

Sobre o “Ministro” Luís António da Costa e o seu “vice-ministro”, que dizer? Qualquer desses homens que andam a ostentar, quais bandeiras propagandísticas, tinham sido capturados pelas Forças Armadas Angolanas, já lá vai quase um ano, e vivem como verdadeiros prisioneiros (não passam disso mesmo) num campo de concentração pelos lados do Yabi (parte sul de Cabinda). Aliás, quem olha com alguma atenção para as fotografias feitas pelo repórter Eduardo Pedro (é o nome que lá está) postas no Jornal de Angola, quer do ex-“Ministro” da FLEC Luís António da Costa (edição de 4 de Junho), quer do ex-“Vice-Ministro” António Sango (edição de 5 de Junho), facilmente constatará esse facto.

A menos que eles se tenham tornado irmãos que vivam agora na mesma casa, partilhando o mesmo “jardim” onde foram fotografados. Salta igualmente à vista de qualquer pessoa o facto, citado pelo Jornal de Angola, de todos eles “terem trocado a guerra pela paz” em Agosto de 2011.

 Se o Jornal de Angola fosse ao detalhe em relação à data, todos ter-se-iam apercebido de que essa “troca” ocorreu no mesmo dia e na mesma hora. Será que o desespero em vésperas de eleições pode levar a esse tipo de exploração de prisioneiros de guerra? Ou será que só agora, depois de um ano, é que os famosos “responsáveis” da FLEC se recordaram desses “factos” que estarão a narrar? Infelizmente, o nazismo não morreu com Hitler, nem o “disismo” (de DISA) morreu com o monopartidarismo. E continuamos a assistir a esses tristes espectáculos onde prisioneiros de guerra são forçados a dizer coisas, com textos previamente elaborados, como forma de atingir adversários fortes e incómodos. E ainda há quem reúna coragem para falar em direitos humanos; diabolizando os verdadeiros defensores dos direitos humanos e elevando aos céus aqueles que desde 1974 levaram a guerra às terras pacatas e pacíficas de Cabinda.Mas, com o medo do veredicto do Povo, nas eleições de 31 de Agosto próximo, e tal como disse, ainda vão aparecer muitos “Ministros”, “Vice-Ministros”, “Comandantes”, etc., que finalmente “descobriram” o lado da verdade, o local onde fica o Paraíso, em Agosto de 2011, que vão se situar no “Futuro”, com “Lembranças” de coisas criadas nos laboratórios já conhecidos, e que farão dos belicistas os bons da fita, e dos massacrados e injustiçados, a corja de diabinhos.

Tem sido invariavelmente assim para todos aqueles que levantam a voz em nome dos fracos e dos oprimidos. Haverá alguma coisa que cause estupefacção? Belchior Lanso Tati, Raúl Tati, Paca Panzo, Pedro Fuca, Francisco Luemba... tinham sido presos e, em seguida, condenados num julgamento recheado das mais sórdidas mentiras até por parte dos defensores da legalidade. Mais tarde o Tribunal Supremo ordenou que fossem mandados em paz e liberdade para as suas casas, por não ter sido provado nenhum dos crimes de que eram acusados; os mesmos que estão a ser agora levantados pelo Jornal de Angola, nas vestes, sabe Deus, de “Procuradoria Geral da República”.

O Jornal de Angola e outros órgãos que se diz serem do Estado mas que, na realidade, estão ao serviço do partido no poder, vão continuar a diabolizar os Activistas dos Direitos Humanos e Verdadeiros Defensores da Paz e do Diálogo em e para Cabinda, Jorge Congo, Raúl Tati, Agostinho Chicaia, Alexandre Sambo, Félix Sumbo, Marcos Mavungo, Belchoior Tati, Raúl Danda e tantos outros, enquanto enaltecem e pintam de bonzinhos aqueles que, desde 1974, recusam o diálogo aberto, franco, frontal e construtivo para a resolução dos problemas candentes do país, entre os quais Cabinda. Algum dia foi diferente? Vai sê-lo quando, na sequência das eleições de 31 de Agosto, o poder mudar de mãos.
Raúl Danda – Deputado da UNITA


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